A FAPERJ apoia as atividades do Laboratório

1 de dez. de 2014

Mais um ano chegando ao fim

O ano de 2014 está chegando ao fim e é hora de fazermos uma avaliação dos fatos que marcaram o ano.

Começamos o ano com o "VERANAÇO", aquele calor e secura insuportáveis que atingiu o Rio de Janeiro em cheio. Calor fora d'água e muito mais calor dentro dela. Água a insuportáveis 33 graus Celsius e visibilidade quase zero. Apesar dos relatos de branqueamento de corais por vários pesquisadores na região (http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2014/04/corais-brancos).

A água na Baía da Ilha Grande ficou assim no verão, com muita espuma, cor verde e quente, muito quente.


Tivemos em Janeiro a chegada da aluna Graça Bacheia, do Curso de Navegação da Universidade de Maputo, em Moçambique, que veio realizar um estágio conosco e teve a oportunidade de conhecer e navegar ao redor da Ilha Grande.

Tripulação a bordo do Velella. L.F.Skinner e Graça Bacheia

Foi um ano de pouca atividade de campo. Mas muito trabalho em laboratório, dissecando e identificando espécies de ascídias com o auxílio da Prof. Dra. Rosana Rocha (UFPR), supervisora de Pós-doutoramento de L.F.Skinner. E esta etapa também trouxe novidades, e das grandes. Uma espécie nova para a região da Baía da Ilha Grande e também, para o SE do Brasil (manuscrito em fase final de elaboração). Uma outra espécie nova para o ES, possivelmente mais uma ou duas para a Ilha Grande e, alguns novos registros de espécies nativas e exóticas. Nosso objetivo era avaliar a diversidade de Ascidiacea na Baía da Ilha Grande ampliando o conhecimento existente sobre a fauna desta região e comparar com a fauna de São Sebastião (SP), onde 61 espécies são conhecidas. Até o momento, nosso estudo foi capaz de identificar 37 espécies/morfotipos para a BIG. Isto representou um acréscimo de cerca de 50% em relação ao trabalho de Marins et al. (2010).






Em outro projeto, em colaboração com o Prof Dr. Emilio Lanna, da UFBA, iniciamos o estudo reprodutivo da esponja-de-fogo Tedania ignis, um estudo que tem ainda a participação de pesquisadoresde Santa Catarina e Pernambuco.

Mas as atividades do laboratório não se restringiram à pesquisa. Teve também seu lado de divulgação científica e a participação na organização da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Arraial do Cabo (https://www.facebook.com/groups/1416476345284884/) participando na formação científica de alunos em geral, e da população. Um dos pontos altos de nossa participação com certeza foi a Oficina de Mergulho, que possibilitou a muitos alunos verem pela primeira vez, o fundo do mar de Arraial do Cabo. E as expressões de encantamento foram muitas.











E 2014 terminou com uma boa notícia, a aprovação pela FAPERJ de mais um projeto, concedendo recursos financeiros para mais um ano de trabalho em 2015.

Então desejamos a todos um 2015 muito próspero, repleto de harmonia e saúde para enfrentarmos o dia a dia, seguindo em frente com muita amizade e fazendo o que mais gostamos, que é descobrir um pouco mais da bela e preciosa vida marinha deste planeta azul. E agradecemos a todas as pessoas e empresas/ órgãos governamentais que nos apoiam e acreditam em nossos sonhos.

Feliz 2015 ! Boas Festas!

3 de set. de 2014

Globalização de fauna bioincrustante

A distribuição de organismos bioincrustantes é relacionada aos processos de dispersão, colonização dos substratos por larvas invertebrados marinhos e propágulos de algas e da sobrevivência destas mesmas estruturas no habitat, de acordo com as características do ambiente como temperatura, salinidade, materiais em suspensão dentre outros.

A navegação e o comércio marítimo ao longo dos anos tem transportado espécies entre diferentes regiões dos oceanos. Muitas destas espécies passaram a apresentar, então, uma ampla distribuição geográfica, incrementando a similaridade na composição específica, mesmo considerando-se regiões geograficamente muito afastadas. Isto tem sido denominado de Globalização de Comunidades Bioincrustantes e tem sido relatada em alguns artigos, inclusive no Brasil (Ignacio et al., 2010).

As áreas portuárias são consideradas como as principais portas de entrada destes organismos por uma fatores como a constante chegada de embarcações, a grande disponibilidade de substratos artificiais, alterações em regimes de correntes e sedimentação, aumento de nutrientes na água dentre outros. A partir destes portos, a dispersão pode ocorrer de forma natural, podendo ser facilitada por transportes regionais/ locais em embarcações menores.

Mapa da Baía da Ilha Grande indicando as áreas onde o acompanhamento da fauna de Ascidiacea está sendo realizado (marcações em amarelo) e os terminais portuários da TEBIG e Angra dos Reis (marcador em azul)

Alterações costeiras como construções que incrementem a disponibilidade de substratos ou a circulação de água (marinas e quebra-mares) e/ou na qualidade da água parecem contribuir para esta globalização de fauna.

Nossos trabalhos recentes, utilizando Ascidias como modelos, tem indicado similaridade entre a fauna presente neste tipo de ambiente (marinas).  Por exemplo, registramos que as espécies Styela plicata e Botrylloides nigrum são frequentemente encontradas nestas regiões. No entanto, a densidade com que ocorrem e/ ou a presença de outras espécies são dependentes de características da água, especialmente o grau de poluição orgânica.


Cnidaria (anêmona) com grande dominânica em um dos locais de coleta.

Styela plicata acompanhada por outros organismos bioincrustantes

Styela plicata recobertas por Botrylloides nigrum (laranja).

Agregado (cluster) de Styela plicata, algumas recobertas por Botrylloides nigrum (laranja). Este grande adensamento de indivíduos cria refúgios internos e permite que outras espécies de Ascidiacea se abriguem em seu interior e possam sobreviver, mesmo na presença de predadores

Styela plicata com seus sifões abertos, acompanhado de outras espécies bioncrustantes como algas, poliquetos e esponjas



Ignacio BL, Julio LM, Junqueira AOR, Ferreira-Silva MAG (2010) Bioinvasion in a Brazilian Bay: Filling Gaps in the Knowledge of Southwestern Atlantic Biota. PLoS ONE 5(9): e13065. doi:10.1371/journal.pone.0013065

24 de jul. de 2014

Diversidade da Ilha Grande - Parte II

Dando continuidade ao nosso trabalho de estudo da biodiversidade bentônica, especialmente de Ascidiacea da Baía da Ilha Grande, fizemos mais duas campanhas durante os meses de junho e julho. Mais do que registrar novas ocorrências, foi uma volta ao redor da Ilha Grande muitíssimo interessante, como pode ser visto neste vídeo produzido por nossa Bióloga e agora, videomaker Danielle Barboza.

É um prazer navegar por águas nem sempre tão tranquilas e cristalinas, mas que guardam muitas surpresas.

Então melhor do que  falar, é assistir o vídeo.

Bom filme!




Volta à Ilha Grande, by Danielle Barboza

22 de mai. de 2014

Dia da Biodiversidade 2014

Hoje, 22 de maio é o dia mundial da Biodiversidade.

É um dia para pensarmos em quão rico é nosso planeta, com muitas formas de vida diferentes, procurando perpetuar-se no tempo e espaço. Inclusive nós.

Este ano o tema escolhido foi a Biodiversidade nas Ilhas.

International Day for Biological Diversity 2014

E por que ? Por que as ilhas são os ecossistemas mais ameaçados em todo o planeta, e não só para espécies não humanas. Nós humanos também estamos perdendo nossos habitats, nossos recursos essenciais à nossa própria vida. Alimento, água, espaço para nossas atividades, tudo isto está sendo consumido e destruído com uma velocidade que já passou do alarmante.

As Ilhas marinhas, sobretudo muitas daquelas localizadas no indo-pacífico estão à beira do colapso:  desaparecerão, serão lavadas dos oceanos pela subida do nível do mar. Não, não é uma previsão catastrófica, isso já é uma realidade catastrófica para milhões de habitantes destas ilhas, que perderão mais do que seu local de moradia. Perderão sua cultura, sua identidade de povo, seu solo onde seus antepassados construíram toda sua história.

John Donne (1572-1631), poeta inglês já afirmava:

"Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti"

Somos parte do ambiente. Sem ele, não existimos. Não existiremos! Cada pedaço de ambiente que se vai, cada espécie que se perde, é uma parte de nossa sobrevivência, de nosso futuro que vai embora também. Que nosso povo terráqueo seja capaz de aprender isto. Já é tarde. Mas podemos construir um novo futuro.

http://www.cbd.int/idb/2014/






11 de mai. de 2014

Ascidiando pelo Brasil

Tanto tempo sem atualizar o blog me  deixou com uma dúvida: o que colocar de informação pois nestes 3 meses desde a última publicação muita coisa já aconteceu. A primeira é a volta da coloração característica da água do mar em Angra dos Reis. Saiu aquela água "caldo de cana" de tão verde (e quente) e tivemos o retorno de águas claras e mais amenas.

Isto permitiu que realizássemos o mergulho de março de forma bastante agradável. E com a água clara, muitas surpresas boas. Muitos animais, lugares muito lindos de se mergulhar e perceber que ao menos parte da Ilha Grande ainda está "livre" do coral sol. Mas a ameaça está lá, à espreita...

Paredão rochoso recoberto por Tubastrea spp na Ilha de Jorge Grego, RJ.

 Observamos uma grande quantidade de esponjas calcáreas da espécie Paraleucilla magna. É uma espécie considerada exótica em águas brasileiras, embora os pesquisadores estejam reconsiderando este status. Mas desde que iniciamos nossos mergulhos, em 2013, não havíamos notado a presença de tantos indivíduos na face oceânica da Ilha.





 Outros animais observados durante a coleta foram uma moréia que se encontrava parcialmente enterrada na areia, lagostas e uma Aplysia.

Mas o objetivo do nosso trabalho desta vez é com a diversidade de Ascidiacea na região da Baía da Ilha Grande. Havíamos programado a retirada dos coletores experimentais que imergimos em fevereiro para o final do mês de abril. Mas infelizmente, este é (e tem sido) o período em que as frentes frias e ressacas marítimas costumam aumentar sua frequência e intensidade. Como a segurança vem em primeiro lugar, fomos obrigados a adiar esta retirada de coletores para o final de maio.

Imagem de satélite do dia 21/04/2014 mostrando a grande massa polar que se dirigia ao S e SE do Brasil, e que produziu em alto mar, ondas de até 6m. Na costa, foi de até 2,5m. Ou seja, para quem precisa navegar e estar perto de pedras, impossível e inseguro. (Fonte: CPTEC/INPE)

Mas apesar disto, o mergulho de fevereiro trouxe boas descobertas. Uma delas foi a ampliação da ocorrência de Ascidia papilatta na região, tanto em substrato natural quanto artificial.





E o mês de abril foi destinado ao estudo taxonômico mais detalhado de Ascidiacea, identificando algumas espécies junto com a Dra. Rosana Rocha, uma das maiores especialistas no grupo na atualidade. E para a nossa surpresa, em uma das amostras da Ilha, uma nova espécie de ascídia. Observando outros espécimes de outros locais do Brasil, chegamos à conclusão que estamos tratando muito possivelmente de duas espécies novas. Agora é hora de terminar as descrições para apresentá-las à comunidade científica e à sociedade. Mas muitas outras espécies foram observadas, mostrando que a Baía da Ilha Grande apresenta uma grande diversidade de espécies de Ascidias também.

Microcosmus exasperatus (laranja) recoberta por um Didemnidae branco

Didemnidae preta

Didemnidae laranja e branca

Três espécies diferentes de Didemnidae

Ascidia sydneiensis



O mês de maio começou com coletas em Cabo Frio, em um estudo de busca de produtos bioativos produzidos por invertebrados marinhos. O projeto é coordenado pelo Prof. Dr. Roberto Berlinck da USP e reuniu a equipe de especialistas em Porifera do Museu Nacional do Rio de Janeiro, coordenado pelo Prof. Dr. Eduardo Hajdu e seus alunos, mestres em Zoologia Camille Leal e Cassio Fonseca. A equipe de Ascidiacea foi formada por mim e pelas Mestras em Zoologia Danielle Barboza e Lívia Oliveira. Uma outra visão desta coleta pode ser lida no excelente blog sobre esponjas do Brasil criado e mantido pelo Prof. Eduardo Hajdu (http://esponjasbrasileiras.blogspot.com.br/)

Diplosoma sp

Diplosoma sp

Didemnum sp

Didemnum sp

Didemnum sp

Didemnum sp



Então aguardem o final de maio para mais novidades!






18 de fev. de 2014

Mudanças climáticas e biodiversidade na Baía da Ilha Grande

Mais uma vez o verão trouxe novidades ao Litoral Brasileiro e ao litoral da Baía da Ilha Grande. Mas ao contrário de trazer boas novidades ou uma nova moda, podemos dizer que este verão 2013-2014 se caracterizou no litoral do Rio de Janeiro por diversas florações de microalgas, muita "espuma" na água e águas muito quentes.



Abaixo temos uma comparação da temperatura superficial da água do mar para os períodos de 2012-2013 e 2013-2014 monitorados na Enseada de Dois Rios.


Podemos notar em ambos os períodos temperaturas bastante elevadas mas em 2014, a média é um pouco superior a 25oC.

Isto foi registrado por outros pesquisadores como a Bióloga Adriana Gomes, do ICMBio) com efeitos sobre os organismos mais sensíveis como corais por exemplo (http://oglobo.globo.com/ciencia/calor-intenso-afeta-corais-na-baia-da-ilha-grande-11599001).

Com isto, iniciamos o monitoramento na área de Dois Rios como parte do proposta nacional de monitoramento de ambientes costeiros. Esta proposta visa o entendimento de eventos ligados à mudanças climáticas globais sobre a distribuição das espécies, no nosso caso sobre as comunidades de costões rochosos (www.rebentos.org).







Vejamos que resultados colheremos no futuro...




Agenda de Atividades do Laboratório